Tomei aquele susto, um gole de água e não quis entender, existem coisas que não tem explicação.
Busquei em minha infância rastros de uma pessoa brava ou triste, uma Irene que eu nunca vi e claro, não achei.
Sempre me recebeu de braços abertos, sorriso largo e algo para comer ou beber.
Quando minha mãe resolveu que era hora dos filhos largar a mamadeira e a chupeta o "contrabando" vinha da casa da Irene. Ficava as tardes dividindo a chupeta e a mamadeira de meu primo. Me sentia especial, afinal, alguém entendia a falta que fazia aquilo, algo tão pequeno para um adulto, mas para uma criança seu mundo.
Nunca vi Irene brava, o maximo eram aquelas broncas com os nomes completos e depois um afago.
Ela mudou, levou para Atibaia um pouco de mim, minhas visitas não eram mais como antes, eu crescia e junto aquela "famosa falta de tempo" de todo jovem. Primeiro o baile os amigos depois a familia.
Mas sempre que podia estava lá e sempre ela me recebia com o amor e carinho dos tempos de quando eu cabia em seu colo.
Ela me lembrava os domingos, macarrão e Silvio Santos, era o dia em que iamos a igreja e depois sentavamos a mesa, faziamos uma oração e para minha alegria , todo domingo mesmo tendo outra comida tinha macarrão - eu amo macarrão e ela sempre soube.
Irene me lembra a musica "A casa d’irene si canta si ride / C’e gente che viene, c’e gente che va / A casa d’irene devo dirglie divino / A casa d’irene stasera si va " de Maresca e Pagano.
Só Deus sabe o que se passa dentro de cada um de nós. Penso que para não deixar ninguém triste ela escondesse mais que segredos comuns, ela guardava tristezas, magoas de não poder salvar o mundo de um filho, de não ser perfeita.
Ninguém é perfeito e só vivemos bem quando temos a força de lembrar que não somos só. De deixar alguém entrar em nossa vida e nos estender a mão, sem nos preocupar, quem ajuda se sente tão bem quanto aquele que esta sendo ajudado.
Guardar dentro de si dores do mundo podem nos levar para longe dele.
Foi assim que Irene se foi, e só Deus saberá como ela sofreu depois de messes sorrindo encima de uma cama, disfarçando a tristeza a solidão e o medo de achar que não pode fazer nada por quem amava.
Cada um sofre a sua maneira, uns demais outros de menos, mas todos nós já sentimos o peso nas costas de achar que fomos insuficientes.
Se todos soubessemos o quanto somos valiosos para alguém talvez isso mudaria.
Eu sinto que as vezes não sou correspondida como queria, me sinto só, mas não desanimo, assim como algo vai mal, outras mil coisas pequenas ou grandes vão bem. Sei quem me ama sei quem pode me amar e sei quem se esforça para isso porque assim tem que ser. Certo ou errado somos todos assim.
Não sou mais a garotinha da mamadeira, mas sempre vou ser a sobrinha de Irene.
"Tia Irene", era assim que eu falava, a irmã do meu pai que me chamava de "babá" que me amava assim como eu a amava.
E não importa quantas voltas o mundo vai dar, se um dia eu cair em desespero e mesmo que eu demorar em lagrimas, a hora passa e eu vou lembrar que pelo menos uma pessoa me amou (e me ama) e continuar sempre vai valer a pena.
Te amo dona Irene Domingues. olhe por nós, que Deus a ampare em seus braços e mostre como sua vida deixou ensinamentos e saudade.
De sua sobrinha com muito amor
Débora
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